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Parece que não aprendemos

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Parece que não aprendemos, contamos sempre com a sorte. É algo enraizado no imaginário popular do brasileiro, interferindo na conduta dos que nela acreditam. Temos muita, muita sorte para os que acreditam nela. Para mim, o que existe é um amadorismo medonho, uma falta de planejamento enorme e uma busca ridícula pelo mais barato. Digo ridícula porque a história recente mostra que o barato sai caro, muito caro. A consequência é a perda de vidas humanas. A negligência, a imprudência e a imperícia de alguns têm causado danos irreparáveis. Até quando? Vamos lembrar um pouquinho: Gran Circus (1961), Niterói (RJ), 503 mortos (cerca de 70% eram crianças); Edifício Andraus (1972), São Paulo (SP), 16 mortos e 330 feridos; Edifício Joelma (1974), São Paulo (SP), 41 mortos e 65 feridos; Edifício Grande Avenida (1981), São Paulo (SP),17 mortos e 59 feridos; Favela de Cubatão (1984), Cubatão (SP), 93 mortos; Edifício Andorinha (1986), Rio de Janeiro (RJ), 21 mortos e mais de 50 feridos; Creche (2000), Uruguaiana (RS), 12 mortos (crianças de dois a quatro anos); Canecão Mineiro (2001), Belo Horizonte (MG), sete mortos e mais de 300 feridos; Trio elétrico (2011), Bandeira do Sul (MG), 16 mortos e 55 feridos; Boate Kiss (2013), Santa Maria (RS), 242 mortos e mais de 600 feridos; Creche Gente Inocente (2017), Janaúba (MG), 14 mortos (10 crianças) e 55 feridos; Incêndio no Hospital Badim (12/09/2019), Rio de Janeiro (RJ), 11 mortos.No Hospital Badim, as vítimas morreram por asfixia e desligamento de aparelhos na noite da última quinta-feira. As investigações ainda estão em andamento.

Nossas tragédias são anunciadas. Assistimos a tudo como se não fôssemos, de alguma forma, responsáveis por tudo o que acontece em nossa volta seja pela ação ou pela ausência dela - a omissão também é uma ação. Parece que não aprendemos nada. Já participei de vários treinamentos de prevenção e combate a incêndio e salvamentos realizados pelos mais diferentes profissionais e sempre observo como as pessoas têm dificuldade de participar desse tipo de atividade. Poucos se preocupam em aprender o que fazer, que atitude tomar frente a um incêndio como se o fogo, a eletricidade ou os materiais inflamáveis não fossem elementos presentes em nossas vidas diariamente. É como se os lugares que frequentamos estivessem imunes a esse tipo de acontecimentos.

Vou fazer algumas perguntas. Quantos hospitais em Santa Maria têm alvará dos bombeiros? Qual o valor investido em prevenção de incêndio nas nossas instituições, espaços públicos e privados (escolas, hospitais, creches, fábricas, depósitos, igrejas)? E se existem esses equipamentos, como é feita a manutenção e o treinamento das pessoas para sua capacitação? E o nosso Corpo de Bombeiros, meus eternos heróis, eles têm recebido o investimento necessário para sua atuação? Sim, investimento, que vai muito além de ter profissionais capacitados, disponíveis e treinados. É preciso equipamentos, viaturas e materiais. Sempre que deparo com tragédias anunciadas, UTIs em andares elevados sem escoamento adequado, profissionais destreinados, hospitais sem alvarás, situações que se prolongam por anos e o poder público e as administrações das instituições não tomam para si a responsabilidade, faço-me muitas perguntas. Até quando vamos tolerar isso, o que será preciso ainda acontecer para mudar essa realidade? Será que não conseguimos aprender com nosso erros? O que tem de mudar, quem tem de mudar, como vamos mudar? Enfim, sinto uma enorme sensação de incapacidade de construir novos caminho, uma tristeza enorme e sempre me lembro e me solidarizo com as mães e as famílias, mas para mim isso não basta. É tudo muito triste.

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